SUSTENTABILIDADE
EM CANTEIRO DE OBRAS
Uma pesquisa da FATEC-SP - Prof. Me. Isaura Maria Varone de Morais Cardoso
Materiais
“Se a obra consumir mais material que o previsto em projeto, pode-se dizer que esteja ocorrendo algum tipo de perda. A mais comum está relacionada ao desperdício, que corresponde às perdas possíveis de serem evitadas. ”
(SOUZA, 2005)
A importância do layout do canteiro no desperdício de materiais
A definição não planejada do arranjo físico do canteiro de obras compromete, entre outras coisas, o uso racional de materiais e suprimentos, e essa negligência, favorece a ocorrência de perdas e consequentemente a produção de resíduos. Em contrapartida, um estudo antecipado, que avalie, entre outras coisas, as necessidades logísticas dos materiais e os suportes necessários para favorecimento do controle de utilização dos mesmos, permite a visualização de situações de risco e a eliminação de improvisações, garantindo maior racionalização e eficiência. Em termos de sustentabilidade, considerando os benefícios gerados, o planejamento de diversos layouts do canteiro, para as diversas fases da obra, é fundamental e imprescindível, representando a grande estratégia para mitigação de impactos ambientais inerentes a produção de resíduos.
Tendo por base o estudo realizado por SAURIN & FORMOSO (2006), além das informações obtidas junto a profissionais ligados a sustentabilidade, na sequência, é apresentado um conjunto de diretrizes a serem seguidas no planejamento do canteiro de obras.
Em um primeiro momento, todas as dependências físicas necessárias à execução da obra, com indicação estimada de suas respectivas áreas devem ser listadas. Isso permite uma visão geral dos espaços necessários, considerando a área de projeção da edificação.
Deve ser feito um levantamento dos principais sistemas e processos construtivos adotados durante toda a evolução da obra, para que possam ser previstos os espaços necessários para recebimento, vias de circulação e estocagem dos materiais correspondentes, assim como aqueles necessários para as áreas de produção. Uma estrutura em concreto armado realizada “in loco”, por exemplo, apresenta necessidades logísticas diferenciadas de uma estrutura composta por elementos pré-moldados.
O estudo do layout deve contemplar a análise do cronograma físico da obra, como forma de garantir a estocagem de todos os materiais necessários à execução dos serviços e que ela seja feita somente no momento da realização dos mesmos para que, inclusive, não ocorra ociosidade por falta de suprimentos. A análise do cronograma também permite verificar as possibilidades de reorganização de áreas para estoque, de acordo com a liberação de alguns setores, por conta do andamento da obra.
Dessa forma, podem ser previstos com antecedência, diversos layouts a serem adequadamente implantados no decorrer da construção.
Resíduos de construção representam um bem valioso e assim como os materiais, os locais de armazenagem devem ser previstos com antecedência, para que a qualidade desses elementos possa ser assegurada durante todas as fases da obra.
Os percursos naturais e os direcionados das águas pluviais dentro do canteiro também devem ser considerados no planejamento das áreas de estocagem, tanto de materiais como de resíduos, como forma de manter a integridade física dos mesmos e evitar carreamento de sedimentos e consequentemente, poluição de possíveis cursos d’água adjacentes à obra, além de assoreamentos.
Da mesma forma os locais de armazenagem devem ser escolhidos para serem protegidos de ventos predominantes existentes no canteiro, como forma de evitar perdas e também a poluição do ar por suspensão de partículas.
Abordagens sobre critérios de sustentabilidade na seleção
A construtora não responde pela especificação dos materiais, mas é quem seleciona os fornecedores, tendo a possibilidade de seguir critérios de sustentabilidade no momento da escolha, dando preferência para produtos e processos que comprovem sua origem e seu desempenho ambiental.
A busca por produtos que possam ser considerados sustentáveis não é tarefa simples. Vários quesitos devem ser analisados e confrontados, até que, entre bons e ruins, seja possível encontrar a escolha que permita “errar menos”. Muitas vezes a qualificação de um produto pode ser anulada por um determinado quesito, como por exemplo, quantidade de matéria prima disponível na natureza versus quantidade de energia consumida ou de geração de poluentes no processo de extração. De um modo geral, a escolha deve ser embasada pelo tripé da sustentabilidade e assim procurar gerar benefícios ambientais, sociais e econômicos. Para cada um desses componentes, existem princípios fundamentais que devem ser considerados e perseguidos, como forma de nortear as decisões, como segue:
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Ambientais – Descontinuar o processo de destruição do meio ambiente, o que envolve a extração depredatória de matéria prima, a destruição de florestas, a geração de resíduos, poluição do solo, do ar e da água.
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Sociais – Impedir a exploração humana, impedir a sonegação de impostos, exigir o atendimento à legislação, promover benefícios sociais
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Econômicos – Detectar preços abusivos, gerar desenvolvimento.
O CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável) nota afirma que não existe sustentabilidade sem formalidade, legalidade e qualidade e sendo assim, apresenta algumas recomendações a serem seguidas antes de qualquer tomada de decisão, como forma de auxiliar construtoras no processo de escolha e compra de insumos e materiais. Já que este trabalho trata da sustentabilidade e esse processo se estende ao canteiro de obras, cabe aqui menciona-las, são elas:
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Verificar a formalidade da empresa fabricante e fornecedora - (Levantar da validade do CNPJ no site da receita federal);
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Verificar a licença ambiental – (Solicitar uma cópia ou número do protocolo correspondente para confirmação nos sites dos órgãos ambientais estaduais);
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Verificar as questões sociais – (Buscar em sites de denúncia, listas de empresas envolvidas com trabalho infantil, escravo, em condições precárias de higiene, com jornadas excessivas e sem alimentação adequada);
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Averiguar a qualidade e normas técnicas dos produtos (Verificar a participação no PSQ - Programa Setorial de Qualidade/ PBQP-H – Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat, no site da entidade setorial responsável);
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Consultar o perfil de responsabilidade socioambiental da empresa – (Buscar em relatórios de sustentabilidade, por exemplo);
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Identificar a existência de propaganda enganosa (“greenwashing”, ou “armadilha verde”) - (Buscar meios contundentes de averiguar a veracidade das informações).
Neste último quesito, é importante desconfiar do produto que se diz ecológico ou reciclável ou verde, atentando para a existência de, por exemplo:
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Destaque apenas para aspectos positivos, favoráveis e omissão de dados sobre problemas ambientais e/ou limitações do produto;
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Informações superficiais, que geram dúvida por serem muito genéricas e não apresentarem o real benefício ambiental do produto, como por exemplo: “Produto 100% reciclável”, “Produto ecológico”, “Produto Sustentável”, etc.;
Informações irrelevantes, que não são suficientes para garantir a segurança ou o desempenho do produto. Exemplo: “Fabricado com produtos naturais”, quando muitos produtos naturais são nocivos;
Em resumo, para verificar a conformidade dos produtos é recomendável levantar toda a documentação capaz de garantir a procedência, o desempenho e a legalidade dos mesmos.
Existem outras estratégias a serem seguidas e critérios a serem verificados que funcionam como um diferencial para a correta seleção de produtos mais sustentáveis, extraídos de informações prestadas por construtoras que buscam certificação ambiental e também de outras, engajadas com questões ambientais, que apresentam lições a serem aprendidas, por meio de seus respectivos relatórios de sustentabilidade.